Esses dias, assisti ao filme “Amores materialistas”,
disponível na plataforma HBO Max. Nada exagerado em termos de interpretação,
produção, etc. Nele, uma mulher de 30 e poucos anos trabalha numa agência
casamenteira, arranjando relacionamentos com base em características comuns,
quando encontra um cara rico de 50 anos que chama sua atenção e, no mesmo dia,
reencontra um ex-namorado pobre de 30 e poucos anos como ela. A película fez-me
pensar sobre o tema da oferta de pessoas/corpos/comportamentos.
Quem entra num aplicativo de relacionamentos sente que está num
supermercado, mas sem carrinho, só com o dedo. Arrasta para a direita, arrasta
para a esquerda. Há gente linda, polida, filtrada. Há rótulos bem feitos: espontâneo,
fitness, viajante. É um catálogo de sonhos embalados, ou seja, o amor virou
vitrine, e cada um tenta se vender como pode.
Uns colocam no perfil o carro, o corpo, o destino da última
viagem. Outros preferem vender a alma, num discurso um tanto poético, porém
sempre com uma boa iluminação. O importante é ser desejável, ninguém quer
parecer fora de linha.
As conversas começam como negociações: “O que você
procura?”; “O que você oferece?”. Amor virou transação comercial, sentimento
com prazo de validade e política de devolução. Se não serve, devolve. Se enjoa,
troca.
Vivemos a era dos amores materialistas (como o título do
filme), e não falo de dinheiro, mas sim de superfície. Valorizamos mais o brilho
do que tudo. Mais a aparência do que o encontro.
As pessoas viraram produtos com embalagens emocionais. E o
mais curioso é que ninguém se rebela, todos participam da feira, tentando
parecer mais caros, mais raros, mais clicáveis.
No fundo, as pessoas ainda querem o mesmo: ser vistas, ser
escolhidas, ser amadas. Só esquecem que o amor não cabe em vitrine, eis que, diferentemente
do consumo, ele não melhora quando tem muitos “likes”.
O filme chama atenção para isso, quando as/os clientes da
personagem principal fazem mil e uma exigências sobre como querem que as pessoas
sejam, as pessoas que serão apresentadas a elas. E é tudo pago. Quando um casal
apresentado pela agência finalmente casa, há festinha na empresa.
Enquanto isso, a humanidade segue rolando a tela, procurando
alguém que pareça original, sem perceber que todos nós já estamos com o código
de barras colado na pele.
Ah, e quanto ao dilema da personagem (“tiozão” rico ou
ex-namorado jovem pobre), você terá que assistir ao filme para saber o que
ocorre. Aliás, se fosse você na situação dela, o que faria?