sábado, 29 de dezembro de 2018

OPINIÃO | Clichê: não sei se bom ou ruim...

O título é clichê, eu sei, pois sempre temos coisas boas e ruins em nossa vida. No entanto, em 2018, para mim, isso ficou muito marcado, ou seja, foi um ano bem dividido nesse quesito.

Há alguns anos, costumo fazer um texto de retrospectiva. Não há como ser diferente. Acredito que vocês, em dezembro, também repensam tudo o que ocorreu nos meses anteriores, estou correto? É o famoso balanço: o que prestou, o que não deu certo, etc.

Com relação a trabalho, ele foi intenso. Foi meu segundo na Secretaria da Cultura, Turismo e Esportes de Santo Antônio da Patrulha, onde temos que fazer chover com pouca grana, sempre buscando investimentos de fora por meio de projetos. Estes foram feitos em 2017 e no começo de 2018, sendo que os frutos estão vindo agora, como é o caso da revitalização de seis pontos turísticos na cidade, o que totaliza R$ 1 milhão. No Polo Universitário Santo Antônio, as coisas foram intensas também, com a tutoria em filosofia e com a docência no curso “Aspectos filosóficos da diversidade”. Ainda houve as queridas e dedicadas alunas particulares de inglês, isto é, três turnos sempre.

Ao término de cada pós-graduação que faço, eu digo: "Esta foi a última. Não farei outra. Não quero mais me incomodar". Isso, mais uma vez, se revelou uma mentira, pois concluí, em junho, "Gestão escolar: orientação e supervisão". Não adianta: sempre serei um entusiasta da formação continuada, seja para mim, seja para outrem.

Em 2018, minha mãe descobriu que estava com câncer de mama. Então, foi uma luta grande com cirurgia e radioterapia. Com afinco e esperança, tudo está bem agora, permanecendo ela apenas com quimioterapia oral. Não adianta: quando o assunto é saúde, todos nos abalamos.

Neste ano, ficou bem claro para mim que, quando damos o dedo, as pessoas querem a mão. Recebendo a mão, querem o braço, e assim por diante. Até a metade do ano mais ou menos, preocupei-me muito com isso, querendo agradar a todos. Entretanto, não é possível. Ser realista e dizer “não” são ações necessárias. Nunca contentaremos todos, é fato. E, ao tentarmos fazer isso, só ganhamos estresse e menos horas de sono.

Também em 2018, tive o amargo conhecimento de que grandes amizades podem acabar por política, sim. Aquelas de anos, que pareciam ser para a vida toda. A campanha eleitoral foi devastadora, pois, por meio dela, pude perceber como pensavam muitas pessoas próximas a mim. Isso me frustrou bastante. Todos sabemos que grandes amizades têm laços mais fortes do que os familiares às vezes. Mas, assim como ocorre na família, esses elos podem ser rompidos, ficando os sentimentos de dúvida e mágoa. Realmente, é uma pena.

Porém conquistei novos amigos. Pessoas que eram somente conhecidas passaram a ser amigas agora. Gente que convivia comigo sem muita proximidade e gente que conheci do nada. As afinidades contam muito.

Consegui um tempo para mim, conforme tinha prometido no ano anterior, e pude viajar à Argentina e ao Chile. Conhecer culturas e lugares novos é uma das melhores coisas da vida. Desligar-se da rotina por alguns dias é sempre bom.

No texto de 2017, prometi dedicar-me mais à literatura, o que não ocorreu em 2018. Acabei publicando um conto e uma crônica na obra “Prosa na Varanda 4” e um poema na “Poesia na Praça” apenas. Todavia, a versão completa das “Rivais” está pronta. Portanto, faço nova promessa: ela será impressa em 2019.

Aliás, com relação a 2019, não quero fazer outras promessas. É preciso viver o momento. Assim como podemos prometer e não cumprir algo, podemos fazer algo totalmente novo e legal. Pensando bem, essa pode ser a palavra para 2019: momento. Assim sendo, desejo que os meus e os seus momentos sejam muito bem vividos nesse ano vindouro. Bola para frente!

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

CONTOS | Por causa da educação



Maria nunca pensou que aquilo aconteceria com ela. Mas era realidade, e ela vivia intensamente. Fazia dois anos que havia se mudado para a cidade em função da profissão de professora. Nomeada, lecionava 40 horas numa mesma escola. Possuía várias turmas, mas apenas uma lhe chamava a atenção: 107. Na verdade, não se tratava da turma, mas de Vítor, seu aluno preferido.

No início de seu trabalho, Vítor era mais um entre tantos estudantes na faixa dos 15 anos. Não se destacava nas aulas. Com o tempo, passou a aparecer, passou a cativar Maria. Ele tinha opiniões fortes, escrevia bons textos. Mais do que isso: procurava a presença dela. Maria começou a notar isso no final do ano anterior, quando os alunos pouco iam à escola em vista de estarem com médias suficientes. Vítor estava sempre lá. Cansou de ser o único a ir a sua aula. Nessas ocasiões, ela não passava matéria; sentava-se próxima a ele, e conversavam sobre vários assuntos.

Numa dada tarde, Maria percebeu o interesse do aluno por ela. Não que não tivesse atinado isso antes, porém, nesta vez, foi mais explícito. Ao se despedirem, ela rumou para a secretaria, e Vítor foi para o lado oposto. Decidiu olhar para trás e encontrou o olhar dele; ambos cuidaram a ida de cada um e sorriram levemente.

Por ética profissional, Maria sentia-se impedida de ter algum relacionamento com o rapaz. Além disso, ele tinha somente 15 anos. Como poderia interessar-se por um adolescente? Só que seus preceitos morais não estavam em condição de decidir; seu coração já o fizera.

Nas férias daquele período, Maria encontrava Vítor na lagoa, ele com sua família, ela com colegas de trabalho. Cumprimentavam-se, conversavam, despediam-se sem que ninguém notasse nada suspeito. Mas a lagoa seria lugar de algo mais.

Em fevereiro, encontraram-se a sós no local. Sem muita cerimônia, envolveram-se em abraços e beijos. Maria quis tanto aquilo que se entregou ao momento. Para ela, era como se o aluno tivesse sua idade, fosse maduro e seguro. Ela o sentia assim, queria que fosse assim.

Teve início um relacionamento às escondidas. Maria recebia o pupilo em sua casa semanalmente. Faziam refeições juntos, assistiam a filmes, debatiam, amavam-se. Mesmo no período letivo, a história de ambos continuou, com um pouco mais de cautela, mas com a mesma intensidade. Sem família na cidade, Maria tomou Vítor como uma espécie de marido até que engravidou dele. Resolveu ter o filho, mas sem que Vítor soubesse que seria pai tão jovem. Em questão de 20 dias após descobrir a gravidez, conseguiu transferência para lecionar em outra cidade.

Lá, teve seu filho, Vicente. Criou-o sozinha. Nunca casou. Nunca contou o paradeiro do pai ao jovem. Nunca mais viu Vítor. Vivia para o filho. Trabalhava, retornava para casa, tratava dos afazeres, checava o desempenho escolar de Vicente, tinha uma vida simples. Simples, mas feliz.

Bom moço, Vicente era um dos primeiros alunos de sua turma. Exibia notas altas, tinha bom comportamento. Durante as tardes, costumava sempre estudar. Porém começou a mudar. Quando Maria chegava a casa, por volta das 17h30min, por várias vezes, encontrou o filho um tanto nervoso, um pouco atucanado com as palavras.

Como o fato passou a se repetir mais frequentemente, Maria ficou preocupada e muito curiosa. Numa tarde, conseguiu os três últimos períodos vagos e rumou para casa. Tinha em mente que algo fora do normal se passava com Vicente. Quando lá chegou, encontrou o filho transando com sua professora de História.