quinta-feira, 22 de junho de 2017

CRÔNICAS | A importância dos pais no processo educacional

Ainda estava na faculdade quando escrevi este texto. Não lembro ao certo, mas era alguma disciplina do centro das ciências humanas. O motivo? É fácil: por que só professores devem ser responsáveis pelos alunos? Cadê os pais? Por sorte, alguns conhecem bem seu papel.

Participei de uma reunião com pais de uma turma para a qual leciono. Na ocasião, discutimos alguns problemas que ocorrem no referido grupo, bem como possíveis soluções para eles. Foi um momento muito importante, do qual destaco um ponto fundamental: a
preocupação de muitos pais com a educação escolar de seus filhos.

No momento, chamou minha atenção a colocação de uma mãe que sabia exatamente o que havia no caderno da filha, assim como um trabalho que ela deveria fazer para minha disciplina. Aquilo me deixou muito contente, pois mostrou que ela, de fato, participava do processo educacional da estudante.

Isso é fundamental nos dias de hoje. Antes, a educação era tida como autoritária. Dizia-se que havia professores quase carrascos e detentos de todo o poder. Hoje, os tempos são outros. O professor é visto como mediador de conhecimentos e experiências. Por isso, ele necessita da ajuda dos pais. Nem tudo cabe a ele na sala de aula. Educação – como comportamento, atitudes – vem de casa. Além disso, os pais precisam estar atentos a como estão seus filhos na escola. Necessitam saber se causam algum problema, se têm bom desempenho, se sentem dificuldades, enfim, necessitam participar.

Dizer que a educação está um caos não vale. O que vale é unir esforços: pais, professores e escola devem atuar juntos na educação. Dessa forma, poderemos dizer que, realmente, participamos do processo educacional de nossas crianças e jovens que serão o futuro do mundo.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

O INEVITÁVEL FIM DAS RIVAIS | Sobre o novo rival

Em meus últimos livros, além dos escritos, quis que as capas e contracapas também fossem bem pensadas. Isso quer dizer que a Série Rivais possui elementos que simbolizam as histórias.

Não gosto de pegar imagens da internet e escrever em cima delas. Então, quando o leitor vê uma nova capa, saiba que a elaboração dela foi demorada.

Meu novo “rival” (não rival na vida obviamente, mas o novo modelo) é o fotógrafo Édipo Mattos, que, no início de 2016, trocou o lado da câmera e foi fotografado por Dani Bomfin. As poses da capa e da contracapa têm a ver com a trama. No verão de 2017, a diagramadora Caroline Meregalli aplicou sua mágica nas imagens.

Sou grato ao Édipo por topar ser o novo rival, assim como à Larieti Assis por ter sido a segunda e à Marcélie Barcelos, a primeira.

Muitos aguardavam uma nova rival. Por que é um homem agora? Só lendo o livro para saber...

Não esqueçam: o lançamento é no dia 29 de junho, às 19h, na Biblioteca Pública Municipal.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

CONTOS | Amor só enche barriga durante nove meses

O amor, para Maria Louca (nascida Maria Batista dos Santos), vinha a prestações; cada uma durava nove meses.

Mas, depois de ter seis filhas, ela cansou do amor. Para todas as suas amigas da COHAB, ela dizia: “Amor só enche barriga durante nove meses”. E assim virou conselheira anti-casório, anti-ajuntamento.

Com as filhas crescidas (duas já embarrigadas), Maria Louca passou a fazer bicos de faxineira numa casa de ricos. Ia lá toda sexta-feira. Conheceu o Bastião, que limpava o pátio e cuidava dos animais.

Pronto. Caiu por terra sua descrença no amor. Apaixonou-se de novo. Em dois meses, ficou buchuda (gêmeos). Inconformado por não ter condições de criar os filhos, Bastião descontava sua raiva em Maria Louca, que apanhava um dia sim, outro também.

Quando pariu, uma das crias não vingou. De cara, morreu. O outro ficou três semanas no hospital e teve o mesmo destino.

Indignado com o ocorrido, Bastião continuou descendo o sarrafo em Maria, às vezes, em duas ou três sessões diárias. Apavorados, os vizinhos comunicaram o padre Bráulio. Em visita de ajuda ao casal, o sacerdote levou tantas cacetadas de Bastião que só pôde ser levado de lá pelo SAMU.

Com isso, Bastião foi preso, e Maria deixou de apanhar. Depois de nove meses sem levar um tabefe, foi visitar o desgraçado na cadeia. Amor à segunda vista, Maria Louca queria Bastião de volta. O defensor público conseguiu libertá-lo depois que Maria e uma vizinha mudaram seus depoimentos.

O casal foi morar no barraco dela. Alheia aos olhares reprovadores dos vizinhos, Maria Louca ficou prenha de novo. A cada noite, Bastião selecionava um objeto diferente para descer no lombo da companheira. Estavam felizes. A cada nove ou dez meses, uma criatura nascia.

domingo, 4 de junho de 2017

CONTOS | O par da debutante

O sonho de Vira sempre foi que o filho Leandro, Leô, fosse par de alguma debutante na cidade. Quando pequeno, o guri tinha que saber portar-se nas festas, comer direito, vestir-se bem. Um verdadeiro contraste com a mãe, grossa até não poder mais. E o pai então? Pior impossível!

Cresceu nas poucas festas da alta sociedade decadente, sempre interpretando bem o papel de bom moço, de inteligente, correto e mais outras coisas. A mãe sempre junto, mas calada. Se abrisse a boca, não teria assunto para entoar.

Enfim, quando o diabo estava no 3º ano, surgiu a oportunidade. A vizinha, Maria do Dileu, convidou Leandro para ser par da filha, Katiele, no debut de outubro. O guri nem abriu a boca, Vira saltou na frente: “Vizinha, ele aceita, sim, está tudo certo. Não se preocupe”.

Era julho ainda, mas Leandro já estava vendo a roupa de pinguim para o evento. Não tinha nada que escolher. Era o mesmo traje sempre. Mas Vira queria algo diferente, algo que destacasse o guri dos outros pares. Até perguntou para o melhor amigo do filho, Julei, o que poderia ser sugerido, colocado, inventado, qualquer coisa. Depois de breve discussão, bate-boca e outras verbidades, resolveram pôr uma rosa champagne no traje de Leandro.

Vira reservou o salão de beleza três semanas antes. Abriu a mão – a muito custo – e se propôs a fazer barba, cabelo e bigode. O marido, Muarai, nem bola para o que era tão aguardado pela mulher, mas deixou alugado o smoking. Curiosa, Vira queria saber do vestido de Katiele. Empenhada, depois de escalar a casa da vizinha com uma escada de lavar forro, conseguiu ver a cor: era champagne. “Muarai, nem sabe: o vestido da Katiele é champagne, que nem a flor do Leandro. Legal, né?”, contou faceira ao marido, que estava estagnado na poltrona, fumando, comendo salgadinhos e que respondeu com um “chega-pra-lá” com a mão.

O bendito baile chegou. Ameaçava chover, e Vira punha as mãos nos cabelos alisados para mantê-los bonitos. Fizeram as filas dos pares. Desfizeram em seguida. Uma debutante queria fazer xixi. Leandro se afastou para a saleta ao lado do rol principal do clube. Cinco minutos passaram. Dez também. Vira foi atrás do filho. Que decepção: ele beijava na boca o amigo Julei. Ela na sabia se chorava, se batia nos dois, se gritava. Optou por correr até lá e separar os dois. Neste momento, o decorador e organizador do baile chamou as debutantes e os pares novamente. Irritada e com muitas lágrimas contidas, Vira pisou com raiva o pé do filho, que se desequilibrou, caindo na parede de pano que separava a saleta do salão. O rapaz foi parar na pista. Os convidados todos olharam. Julei – que era primo de uma debutante – correu para acudir o namoradinho, dizendo: “Leô, amor, está tudo bem?” O silêncio tomou conta do salão. “Namoradinho?”, disse uma na ponta. “Jesus, o filho da Vira é gay. Que vergonha!”, exclamou a mãe de uma coleguinha do guri. “Que que tem? Deixa o cara fazer o que quiser!”, disse um outro pai meio bêbado.

E o falatório tomou conta do salão. A debutante Katiele chorava de vergonha, as outras escondiam o riso com as mãos nos rostos. O baile parou. Em meia-hora, Leandro estava apanhando do pai e da mãe em casa; Julei tinha batido o carro ao sair do salão e fora para a delegacia; e a mãe de Katiele infartou indo para o hospital.

O par desapontou; o sonho esvaiu-se em menos de duas horas.

No dia seguinte, Vira parou de tomar a pílula. Queria engravidar novamente e sonhar com um par de debutante perfeito.