Escrever bem, dizem, é um dom. Bobagem! Escrever bem é um ato de paciência e, talvez, de resistência. Em um mundo em que tudo precisa caber em duzentos e poucos caracteres, quem se detém para conferir se “mas” tem “i” ou não parece um sobrevivente de outra era.
Não que as pessoas não saibam português. Sabem, sim (ou, pelo menos, acreditam saber). Cresceram ouvindo que o importante é se comunicar, como se isso fosse apenas jogar palavras ao ar e esperar que elas façam sentido sozinhas. O problema é que, às vezes, não fazem. A vírgula fora do lugar muda o sentido, o “mau” e o “mal” confundem, o “por que” vira um pesadelo de quatro variações... E o resultado é um texto que soa como aquele amigo que fala muito, mas diz nada.
Há quem culpe a escola, o professor, o celular, o corretor automático, a pressa, a vida moderna. E há também quem defenda que escrever corretamente é frescura. Mas quem já não se viu, em meio a um texto mal pontuado, tentando entender o que o outro quis dizer? Eu, por exemplo, sim (e por muitas vezes). Escrever bem não é exibicionismo: é generosidade. É facilitar a vida do leitor, é dizer algo assim: “Eu me importo em ser claro para você”.
A verdade é que o português, com todas as suas regras e exceções, com frequência, vira um drama de palavras, logo, exige muita atenção. Ele pede cuidado(s). E, no fundo, é isto o que falta: tempo e vontade de cuidar da língua, de tratá-la não como um peso, mas como uma companhia que, quanto mais conhecida, mais familiar se torna.
Porque escrever bem não é um luxo; é um gesto de respeito com
o outro, com a própria ideia e (por que não?) com o idioma que insiste em
sobreviver, mesmo entre abreviações, emojis, “seje” e “menas” de todos os dias...
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