Em
casa, tomando seu achocolatado com leite bem quente – fervido no fogão, e não
esquentado no micro – ela só pensava em visitá-lo. Sentia que queria. Queria
sentir. Tudo junto. Mas chovia. E chovia muito. Era uma sexta, já nove da
noite. “Vou? Será?” Antes de pensar, já decidira.
Saiu
sem casaco. Uma blusa já desbotada, uma calça jeans justa, sapatos de salto
“Luís XV”, como dizia uma amiga, sem sombrinha. O cabelo desgrenhado (com a
chuva, ficava pior) ressaltava a oleosidade. Ela nem dá bola, nem para ela, nem
para os curiosos que a olhavam passar. “Vão se ferrar, idiotas!”
Assim
foi caminhando por 45 minutos. Ou foram 50? É que atolou o salto e levou um
tempo a ajeitá-lo. Na frente da porta, hesitou: “Bato? Volto?” Segundos de
silêncio antecederam a série de batidas fortes (a campainha estragara). Bateu,
bateu. Quis chorar. Bateu de novo. Quando ia dar um soco, ouviu barulho de
chave. O rosto dele era de desaprovação total. Pudera: ela um trapo vivo ali, o
que ele pensaria? Bem, ele baixou a cabeça, fez um sinal com a mão
(indecifrável para ela) e cerrou a porta.
Ela
sentou no chão, com as costas doloridas escoradas na porta fechada contra ela.
Chorou. Lavou-se mais do que a chuva o fizera. Dez minutos seguintes (ou 15?),
levantou-se, um pouco cambaleando, foi para a rua, não para a calçada, sequer
viu o caminhão enorme.
Acordou.
Tinha muita luz. Gente ao redor. “O que é isso?” Quis levantar, não conseguiu.
Começou a falar (...) Falou de novo (...) Gritou (...) Nada.
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