O amor, para Maria Louca (nascida Maria Batista dos Santos),
vinha a prestações; cada uma durava nove meses.
Mas, depois de ter seis filhas, ela cansou do amor. Para
todas as suas amigas da COHAB, ela dizia: “Amor só enche barriga durante nove
meses”. E assim virou conselheira anti-casório, anti-ajuntamento.
Com as filhas crescidas (duas já embarrigadas), Maria Louca
passou a fazer bicos de faxineira numa casa de ricos. Ia lá toda sexta-feira.
Conheceu o Bastião, que limpava o pátio e cuidava dos animais.
Pronto. Caiu por terra sua descrença no amor. Apaixonou-se
de novo. Em dois meses, ficou buchuda (gêmeos). Inconformado por não ter
condições de criar os filhos, Bastião descontava sua raiva em Maria Louca, que
apanhava um dia sim, outro também.
Quando pariu, uma das crias não vingou. De cara, morreu. O
outro ficou três semanas no hospital e teve o mesmo destino.
Indignado com o ocorrido, Bastião continuou descendo o
sarrafo em Maria, às vezes, em duas ou três sessões diárias. Apavorados, os
vizinhos comunicaram o padre Bráulio. Em visita de ajuda ao casal, o sacerdote
levou tantas cacetadas de Bastião que só pôde ser levado de lá pelo SAMU.
Com isso, Bastião foi preso, e Maria deixou de apanhar.
Depois de nove meses sem levar um tabefe, foi visitar o desgraçado na cadeia.
Amor à segunda vista, Maria Louca queria Bastião de volta. O defensor público
conseguiu libertá-lo depois que Maria e uma vizinha mudaram seus depoimentos.
O casal foi morar no barraco dela. Alheia aos olhares
reprovadores dos vizinhos, Maria Louca ficou prenha de novo. A cada noite,
Bastião selecionava um objeto diferente para descer no lombo da companheira.
Estavam felizes. A cada nove ou dez meses, uma criatura nascia.
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