domingo, 24 de fevereiro de 2019

CONTOS | Longe demais


Quando o sentimento terminou, ela se sentiu derrotada; quis se isolar na ilha deserta de sua alma. Uma vez lá, percebeu que nada poderia fazer.

Ela adentrou a sala em penumbra. Por sorte ou não, encontrou o porta-retratos quebrado. Era como se sentia. Passou a mão pelos livros empoeirados. Foi então que abriu o antigo diário, aquele no qual escrevia quando triste estava. Procurou, procurou... Achou o trecho que refletia seu estado: “O amor é como um livro em dois volumes, sendo que o primeiro foi perdido. O amor é a incompletude na ausência”.

Depois daquele dia, enlouqueceu.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

CRÔNICAS | É preciso prestar atenção em tudo?

No final de semana passado, estava eu na casa de uma amiga e, para nossa surpresa, pouco havia para o café da manhã. Então, ela pegou tapioca e disse que faria a mesma com ovo. Perguntou se eu comia aquilo. Diante da minha negativa, disse-me que era super fácil e passou a explicar-me. Neste exato momento, eu me desliguei. Isso mesmo, parei de prestar atenção e apenas concordei com a cabeça a cada passo que era dado.

Eu gosto de comer, não de cozinhar. Detesto cozinhar. Aliás, não cozinho. Por isso, quando alguém começa a me detalhar como fazer pratos, por mais simples que sejam, eu simplesmente escuto sem gravar nada do que a pessoa fala. Mas por que estou escrevendo essas bobices? Por que estou dando esse exemplo tosco?

Nos dias atuais, as situações que nos levam ao limite são cada vez maiores. Elas ocorrem na família, nos relacionamentos amorosos e de amizade e, principalmente, no trabalho. Às vezes (ou em muitas vezes), é preciso desligar-se. É difícil fazer isso, eu sei. Levei anos para estar apto. No entanto, quando você aprende, é algo fantástico. A pessoa que está incomodando você, enchendo seu saco ou lhe xingando fica falando, e você consegue apenas balançar a cabeça e desligar.

Não estou dizendo que devemos ser alienados do mundo. Mas você já se perguntou: é preciso prestar atenção em tudo? Quando estão a lhe contar uma tragédia horrível, a qual já é passado, o que você poderá fazer a respeito disso? Se seu chefe (ou líder em poucos casos) está esbravejando, e você precisa do emprego, é legal prestar atenção em tudo que é dito, sendo que você não poderá xingá-lo?

Claro, há situações e situações. O que quero dizer é que, quanto mais você conseguir se desligar de situações ruins, melhor será seu estado de espírito. Trata-se de não absorver tudo que lhe é passado, de ser capaz de filtrar informações e ações, de saber quando ficar ou não ligado, de dar uma trégua ao cérebro que, depois, em casa, deixará ou não você dormir.

Portanto, já sabem: desliguem-se de vez em quando. Sua paz de espírito agradecerá por isso.

A propósito, você se desligou para ler este projeto de texto? Espero que não!