quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

OPINIÃO | Não se trata de opção!


Em tempos de azul x rosa (mesmo que haja a desculpa de se tratar de uma figura de linguagem), quero escrever aos ignorantes. Mas atenção: antes de me xingar pelo uso dessa palavra, tenham em mente que ignorante é a pessoa que não teve acesso a algum conhecimento. Isso pode ocorrer porque ela não quis (se nega a isso), ou porque não teve a oportunidade. Eu, por exemplo, sou ignorante em mecânica de carros. E por aí vai.

Os parágrafos a seguir são fruto “do resumo do resumo” de dois trabalhos de conclusão meus (Educação em Direitos Humanos – FURG e Educação para a Diversidade – UFRGS, ou seja, provêm de pesquisa.

A ignorância sempre permeou nossa sociedade. Como civilização, já tivemos escravos, as mulheres já desempenharam papel de total submissão, pessoas com determinadas doenças foram mortas, só para citar alguns exemplos. Não seria diferente com relação às questões sexuais, em especial, a pessoas que se sentem atraídas pelo mesmo sexo.

A falta de conhecimento sobre a homossexualidade é grande. Na mídia, quando se fala do assunto, ou é de uma forma que visa à desqualificação do homossexual, por meio de piadas e chacotas, ou com informações imprecisas. Se falar de sexo incomoda, imagine isso tocante à homossexualidade. O tabu é forte.

Por muito tempo, a atração de pessoas pelo mesmo sexo foi considerada uma doença. O termo que se usava era “homossexualismo” (o sufixo “ismo” é usado para palavras associadas a doenças). Hoje, o correto é usar “homossexualidade”, ou seja, com o sufixo “dade” que, segundo o psicólogo João Batista Pedrosa (2006), significa ‘maneira de ser’.

Pedrosa (2006) informa que foi com o médico alemão Magnus Hirschfeld que se começou a deixar de lado a terminologia “homossexualismo”. Hirschfeld, na década de 1920, divulgou a ideia de que a homossexualidade não é uma doença, mas sim tem origem biológica.

Quase meio século depois, em 1973, a Associação Americana de Psiquiatria retirou a homossexualidade do seu Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais (DSM), deixando de considerá-la doença. Posição que foi acompanhada por centenas de organizações em todo o mundo.

Como se nota, a questão homossexual até doença já foi considerada. Graças à ciência e a movimentos sociais, isso não ocorre mais hoje. É uma preocupação a menos para gays, lésbicas e transexuais em nossa sociedade. Se bem que a ciência que desqualificou a homossexualidade como doença foi a mesma que, no passado, denominou-a como tal (homossexualismo). Então, é preciso prestar atenção ao que se faz necessário para modificar certas concepções sociais.

No entanto, mesmo sendo esclarecido pela ciência, muitas pessoas ainda referem-se ao tema como “opção sexual”. Pedrosa (2006) explica que não se trata de uma opção. Optar significa escolher em ser ou não ser gay. Assim como o heterossexual não escolhe em ser ou não ser heterossexual, o mesmo acontece com o homossexual. Sendo assim, o termo mais correto é “orientação sexual”, que pode ser explicada por fatores genéticos, ambientais e práticas culturais.

Imagine a pergunta: “Quando você optou por ser heterossexual?” Provavelmente, a pessoa vai dizer: “Sempre fui assim”. Pois é, não foi uma escolha.

Ficou mais claro? Espero que sim. Eu opto sempre pelo conhecimento científico. Recomendo tal conhecimento a todos (azuis ou rosas). Os estudos estão ao acesso de todos, basta serem dados uns cliques certos na internet, ou ser feita uma boa consulta bibliográfica.

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