Em tempos de azul x rosa (mesmo que haja a desculpa de se
tratar de uma figura de linguagem), quero escrever aos ignorantes. Mas atenção:
antes de me xingar pelo uso dessa palavra, tenham em mente que ignorante é a pessoa que não teve acesso a algum conhecimento. Isso pode ocorrer porque ela
não quis (se nega a isso), ou porque não teve a oportunidade. Eu, por exemplo,
sou ignorante em mecânica de carros. E por aí vai.
Os parágrafos a seguir são fruto “do resumo do resumo” de
dois trabalhos de conclusão meus (Educação em Direitos Humanos – FURG e
Educação para a Diversidade – UFRGS, ou seja, provêm de pesquisa.
A ignorância sempre permeou nossa sociedade. Como
civilização, já tivemos escravos, as mulheres já desempenharam papel de total
submissão, pessoas com determinadas doenças foram mortas, só para citar alguns
exemplos. Não seria diferente com relação às questões sexuais, em especial, a
pessoas que se sentem atraídas pelo mesmo sexo.
A falta de conhecimento sobre a homossexualidade é grande. Na
mídia, quando se fala do assunto, ou é de uma forma que visa à desqualificação
do homossexual, por meio de piadas e chacotas, ou com informações imprecisas.
Se falar de sexo incomoda, imagine isso tocante à homossexualidade. O tabu é
forte.
Por muito tempo, a atração de pessoas pelo mesmo sexo foi
considerada uma doença. O termo que se usava era “homossexualismo” (o sufixo “ismo”
é usado para palavras associadas a doenças). Hoje, o correto é usar “homossexualidade”,
ou seja, com o sufixo “dade” que, segundo o psicólogo João Batista Pedrosa
(2006), significa ‘maneira de ser’.
Pedrosa (2006) informa que foi com o médico alemão Magnus
Hirschfeld que se começou a deixar de lado a terminologia “homossexualismo”.
Hirschfeld, na década de 1920, divulgou a ideia de que a homossexualidade não é
uma doença, mas sim tem origem biológica.
Quase meio século depois, em 1973, a Associação Americana de
Psiquiatria retirou a homossexualidade do seu Manual de Diagnóstico e
Estatística de Distúrbios Mentais (DSM), deixando de considerá-la doença.
Posição que foi acompanhada por centenas de organizações em todo o mundo.
Como se nota, a questão homossexual até doença já foi
considerada. Graças à ciência e a movimentos sociais, isso não ocorre mais
hoje. É uma preocupação a menos para gays, lésbicas e transexuais em nossa
sociedade. Se bem que a ciência que desqualificou a homossexualidade como
doença foi a mesma que, no passado, denominou-a como tal (homossexualismo).
Então, é preciso prestar atenção ao que se faz necessário para modificar certas
concepções sociais.
No entanto, mesmo sendo esclarecido pela ciência, muitas
pessoas ainda referem-se ao tema como “opção sexual”. Pedrosa (2006) explica que
não se trata de uma opção. Optar significa escolher em ser ou não ser gay.
Assim como o heterossexual não escolhe em ser ou não ser heterossexual, o mesmo
acontece com o homossexual. Sendo assim, o termo mais correto é “orientação
sexual”, que pode ser explicada por fatores genéticos, ambientais e práticas
culturais.
Imagine a pergunta: “Quando você optou por ser
heterossexual?” Provavelmente, a pessoa vai dizer: “Sempre fui assim”. Pois é,
não foi uma escolha.
Ficou mais claro? Espero que sim. Eu opto sempre pelo
conhecimento científico. Recomendo tal conhecimento a todos (azuis ou rosas).
Os estudos estão ao acesso de todos, basta serem dados uns cliques certos na
internet, ou ser feita uma boa consulta bibliográfica.