Na mala, ela tinha seus sonhos, suas frustrações, seu
tesouro, seu destino, suas preciosidades. Era quase um templo sagrado (ou seria
profano?) no qual os pertences valiam muito. Trava-se de sentimentos, alguns
adormecidos, muitos ainda vivos, prontos para romper o zíper e
aventurar-se.
Com a mala, ela se sentia segura, confiante, poderosa. A
mala parecia ter poderes mágicos.
Mas não. Era só uma mala, um objeto, uma coisa. Só que não
era coisa fútil.
De noite, pegou a mala. Colocou panos diversos nela. Por
quê? Não sabia. Só saiu, estava em fuga. Mas de quê?
Na realidade, não era uma fuga, mas sim um encontro. Isso na
cabeça dela. A todo custo, queria ver e ter Davi, mesmo que, para isso,
precisasse livrar-se da gêmea. Ela sempre foi um empecilho.
Por isso, foi. Não tinha muito dinheiro, porém tinha o que
lhe bastava: informação. E eram informações valiosas e preocupantes. Ela
precisava agir, ou tudo estaria perdido. Não conseguia imaginar-se sem sua realização.
Às vezes, chorava. Muito raramente. Era humana, pelo menos, tinha prova disso
pelas lágrimas. Aliás, costumavam dizer a ela que era uma pedra de gelo. Em
partes, ela concordava com isso, eis que demonstrar fraqueza não era de seu
feitio. Em seu interior, porém, era um poço de fragilidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário