Este texto é para você, leigo, que não entende a paralisação
dos professores, ou que acha que todos são vagabundos por fazerem isso.
Em primeiro lugar, deve-se ressaltar que a classe nem
direito à paralisação tem mais. Segundo o secretário de Educação José
Clovis de Azevedo, os professores que aderiram à greve terão o ponto cortado e
sofrerão desconto nos rendimentos. O mesmo “ser”,
em entrevista ao programa Gaúcha Repórter, da Rádio Gaúcha, atribuiu nota 8 ao
ensino no Estado, mas creditou nota 6 à estrutura e salário dos docentes.
Reforçou que os salários da categoria no Rio Grande do Sul não ficam abaixo do
fixado no piso nacional (R$ 1.567).
Vamos esmiuçar esses comentários infelizes do “ilustre”
Secretário. Se levarmos em conta que alunos de educação infantil não podem ser
reprovados e que os do médio (agora politécnico) ganham apenas três conceitos, é
fato dar 8 à educação gaúcha, já que é quase impossível a reprovação. Agora, 6
para a estrutura das escolas – caindo aos pedaços – e ao salário dos docentes
foi generoso demais. Se assim fosse, talvez, nem houvesse essa paralisação. Ademais,
o piso nacional não é cumprido no Rio Grande do Sul, como explicarei melhor
adiante.
Nossa paralisação – a que a imprensa chama de greve, como se
fosse de um mês –começou na terça (23) e se estende até quinta-feira. Além do piso nacional, a luta é por melhores condições de trabalho e infraestrutura
das escolas, como citei acima.
Em janeiro, o Ministério da Educação divulgou reajuste no piso nacional dos professores, fixando em R$ 1.567 o
vencimento básico da categoria, para 40 horas-aula semanais. No Rio Grande do
Sul, porém, o básico no contracheque do professor com essa carga horária é de
R$ 977,02. Entenderam agora? Estamos falando do básico, não dos “pendurilhacos”
agregados a ele, como o “vale-fome”, que é dado dia 20 e, no final do mês, é
retirado parcialmente, e o difícil-acesso, ajuda de custo para deslocamento do
professor até suas escolas (o que, aliás, ocorre em qualquer emprego, com uma única
diferença: o valor miserável que é dado a nossa categoria).
O governo estadual discorda do indexador usado para calcular o reajuste anual
do piso, que é baseado no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), considerado
instável. O Estado defende o uso do Índice Nacional de Preços ao
Consumidor (INPC) como referência. Então, enquanto se discute qual índice usar,
o pagamento do piso fica a “Deus dará”. O que nos frustra é que Tarso Genro,
quando ministro, criou o piso dos professores. Agora, como governador de seu
estado, não quer pagá-lo. Ou seja, nesse Brasil de facilidades, é extremamente útil
criar uma lei e não cumpri-la depois.
Desta forma, sociedade, não critique os docentes antes de conhecer suas razões.
Talvez, essa paralisação não dê em nada, como muitas outras da classe. Mas
devemos ficar de braços cruzados por conta disso? Por que outras classes
recebem reajustes? Por que os professores estão sucateados assim como as
escolas? São por causa de perguntas assim que a paralisação se faz válida.