No final deste semestre, na disciplina "Literatura de Autoria Feminina", que integra a grade curricular da minha nova pós-graduação (Língua, Literatura e Ensino: Teoria e Prática, da FURG), fomos instigados a escrever um artigo sobre alguma autora. Claro que escolhi uma conterrânea: Sinara Foss. O foco da análise foi a coleção "Em busca de um mundo melhor", que conta as divagações e aventuras da cachorrinha Sissi. Confiram:
Mais do
que encontro, literatura é a palavra artisticamente empregada. E isso a
escritora gaúcha Sinara Foss faz com maestria. Conheço Sinara pessoalmente há,
pelo menos, dez anos. No entanto, tive contato com suas obras antes disso. De
seus escritos, os que mais me chamam a atenção são os cinco volumes da coleção
“Em busca de um mundo melhor”, sobre os quais passo a discorrer.
Sinara
Foss nasceu no interior de Santo Antônio da Patrulha, na localidade de
Taquaral, em 1969. Escreve desde criança. Em 1996, lançou seu primeiro livro,
“Memórias de um cachorro velho”. Por gostar muito de animais, além de
vegetariana, ajuda a ONG Animal Shelter, sendo uma das fundadoras da mesma, em
2013. Sua paixão por animais, por certo, influencia sua produção literária que,
por vezes, pode se confundir com literatura infantil apenas, mas não o é.
Em
2010, é lançado o livro “Divagações de Sissi”. A obra conta a história da
cachorrinha Sissi e sua turma de cães e gatos que estão juntos em uma aventura
que mescla diversão, crítica e um profundo respeito à vida. O primeiro livro da
coleção “Em busca de um mundo melhor” tem como um dos objetivos o
entretenimento, na medida em que foi escrita com uma linguagem descontraída,
que agrada tanto adultos como adolescentes e, inclusive, crianças. Outra
pilastra da obra é a promoção de consciência quanto à importância de se cuidar
bem dos animais e do meio ambiente. O livro é escrito em primeira pessoa pela
personagem Sissi, ou seja, há a personificação da cachorrinha. É um romance misturado
com fábula. Vejamos um trecho:
As pessoas, ao julgarem os animais inferiores e que a única
serventia é para serem comidos, usados em pesquisas ou usados como roupas, com
seus couros e peles, estão fazendo como os nazistas, que tanto mal fizeram e
que ainda hoje envergonham a humanidade por esse crime tão hediondo! Vocês
sabem o que é hediondo? É algo grande, grande demais! (p. 56).
Como se
nota, há referência a fato histórico que não é de conhecimento de tenra idade,
o que mostra a possibilidade de leitura da obra pelo público adolescente e
adulto.
A
coleção continua com “Sissi e sua turma no futuro” (2011). A turma, agora,
viaja para o futuro e depara-se com um mundo muito diferente. Neste novo
romance, Foss levanta um tema importante e urgente: a preservação do meio
ambiente e das espécies animais e vegetais. O livro deixa um questionamento
grande ao leitor: que mundo estamos deixando para as futuras gerações?
No
mesmo ano (2011), surge “As divagações continuam”. Nele, a narradora Sissi
conta episódios divertidos de cães e gatos que conhecemos nos livros anteriores
da série, ou seja, o tom é mais ameno. Todavia Sissi também fala sério e
desabafa sobre assuntos importantes que a preocupam, como o abandono de animais
e os maus tratos que eles sofrem todos os dias, daí a importância da posse
responsável e da castração dos animais de estimação.
“Sissi
na África” veio em 2012. A simpática turma desembarca na África, mais
precisamente, em Kibera, a maior favela do mundo. O livro apresenta uma abordagem
um pouco diferente dos anteriores, mas a mensagem é a mesma: que devemos nos
colocar no lugar do próximo, seja ele de que raça, sexo, ou espécie for.
Por
fim, anos depois, em 2016, Foss escreve o livro que mais me tocou: “O
entardecer de Sissi”. Ela teve uma vida longa e rica; alegrou a família com
quem viveu, os amigos que a conheceram pessoalmente ou apenas de longe, os
leitores que foram tocados por sua história. Entretanto, chegou o momento de
sua morte, tanto nos livros, como na vida real. Sim, os personagens
personificados de Sinara Foss, de fato, existem ou existiram: Trata-se de seus
bichinhos de estimação. O fim de Sissi é ilustrado por este trecho:
“Eu paro a luta por aqui, amigos. Não pensem com isso que
desisti. Não. Não cansei de lutar. Se tivesse saúde, eu permaneceria aqui com
vocês por muito mais tempo. Mas nosso corpo, diferente de nosso espírito, não é
eterno. Minha hora está chegando, eu sei, eu sinto. Logo, muito em breve,
sairei da vida e entrarei para a história” (p. 94).
O livro
tocou-me não só como leitor, mas também como educador, eis que tive o prazer de
abordá-lo em sala de aula quando trabalhei questões ambientais com meus alunos
durante o já “extinto” Ensino Médio Politécnico, no Rio Grande do Sul. Perceber
que se consegue fazer com que discentes leiam prazerosamente é algo fantástico,
pois damos novo sentido à disciplina de Literatura na escola, não sendo a mesma
apenas para períodos literários e classificações.
Além de
ser uma voz feminina na literatura, Sinara Foss é uma voz pelos animais e pela
educação ambiental, temas tão negligenciados no Brasil atual. Ela é
representativa, e espero que seja mais ainda a partir de suas obras e de seu
site (http://www.artistasgauchos.com.br/sinarafoss). Ler Foss é ter um encontro
com a preocupação na vida futura. Literatura feminina, às vezes, é confundida
somente com história de amor, fragilidade e submissão. Não é o que ocorre aqui.
Feminina,
ambientalista, didática e significante: essas são minhas palavras para a
literatura de Foss.
Referências
FOSS, Sinara. Divagações de Sissi. Porto Alegre: Pragmatha,
2010.
___________. Sissi e sua turma no futuro. Porto Alegre:
Evangraf, 2011.
___________. As divagações continuam. Porto Alegre:
Evangraf, 2011.
___________. Sissi na África. Porto Alegre: Evangraf, 2012.
___________. O entardecer de Sissi. Porto Alegre: Pragmatha,
2016.
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