Chuva depressiva. Casa perigosa. Andréia estava só. Já tinha
se emboletado, mas não conseguia dormir. Lá fora, o mundo caía. Dentro, também.
Andréia não suportava mais seus empregos. Tampouco o marido e a família. Muito
menos, ela mesma.
Ela não sabia no que pensava. Não conseguia pensar. Quando
pensava, eram relances, coisas esparsas, loucuras. Os trovões e raios do
temporal simbolizavam bem a mente de Andréia. Flashes, sustos, minutos de
clarão.
Não fazia muito, a mulher tinha abandonado a terapia. Com a
morte dos pais e as desculpas do marido sobre traição, o surto havia aumentado.
Ela não sabia se vivia na realidade. Sentia que não fazia falta. Era um
estorvo. Faltavam-lhe razão e ilusão.
Foi até a cozinha. Fez um chá. Tomou-o com mais duas
boletas. Sentou-se na sala. Começou a fazer planos:
“Enlouqueci? Sim. Perdi a vida? Não. Próximo passo traçado
então”.
Calçou os tênis, tirou os óculos, saiu. Queria sumir. Por um
tempo. Para sempre. Tanto fazia. O importante era iniciar.
(...)
O marido procurou Andréia. A família também. Dias depois,
foi encontrada num terreno baldio, atrás de uma escola. Na página policial,
apenas um bilhete foi achado em um dos bolsos: “Meu diário ficou na gaveta”.
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