terça-feira, 25 de dezembro de 2018

CONTOS | Por causa da educação



Maria nunca pensou que aquilo aconteceria com ela. Mas era realidade, e ela vivia intensamente. Fazia dois anos que havia se mudado para a cidade em função da profissão de professora. Nomeada, lecionava 40 horas numa mesma escola. Possuía várias turmas, mas apenas uma lhe chamava a atenção: 107. Na verdade, não se tratava da turma, mas de Vítor, seu aluno preferido.

No início de seu trabalho, Vítor era mais um entre tantos estudantes na faixa dos 15 anos. Não se destacava nas aulas. Com o tempo, passou a aparecer, passou a cativar Maria. Ele tinha opiniões fortes, escrevia bons textos. Mais do que isso: procurava a presença dela. Maria começou a notar isso no final do ano anterior, quando os alunos pouco iam à escola em vista de estarem com médias suficientes. Vítor estava sempre lá. Cansou de ser o único a ir a sua aula. Nessas ocasiões, ela não passava matéria; sentava-se próxima a ele, e conversavam sobre vários assuntos.

Numa dada tarde, Maria percebeu o interesse do aluno por ela. Não que não tivesse atinado isso antes, porém, nesta vez, foi mais explícito. Ao se despedirem, ela rumou para a secretaria, e Vítor foi para o lado oposto. Decidiu olhar para trás e encontrou o olhar dele; ambos cuidaram a ida de cada um e sorriram levemente.

Por ética profissional, Maria sentia-se impedida de ter algum relacionamento com o rapaz. Além disso, ele tinha somente 15 anos. Como poderia interessar-se por um adolescente? Só que seus preceitos morais não estavam em condição de decidir; seu coração já o fizera.

Nas férias daquele período, Maria encontrava Vítor na lagoa, ele com sua família, ela com colegas de trabalho. Cumprimentavam-se, conversavam, despediam-se sem que ninguém notasse nada suspeito. Mas a lagoa seria lugar de algo mais.

Em fevereiro, encontraram-se a sós no local. Sem muita cerimônia, envolveram-se em abraços e beijos. Maria quis tanto aquilo que se entregou ao momento. Para ela, era como se o aluno tivesse sua idade, fosse maduro e seguro. Ela o sentia assim, queria que fosse assim.

Teve início um relacionamento às escondidas. Maria recebia o pupilo em sua casa semanalmente. Faziam refeições juntos, assistiam a filmes, debatiam, amavam-se. Mesmo no período letivo, a história de ambos continuou, com um pouco mais de cautela, mas com a mesma intensidade. Sem família na cidade, Maria tomou Vítor como uma espécie de marido até que engravidou dele. Resolveu ter o filho, mas sem que Vítor soubesse que seria pai tão jovem. Em questão de 20 dias após descobrir a gravidez, conseguiu transferência para lecionar em outra cidade.

Lá, teve seu filho, Vicente. Criou-o sozinha. Nunca casou. Nunca contou o paradeiro do pai ao jovem. Nunca mais viu Vítor. Vivia para o filho. Trabalhava, retornava para casa, tratava dos afazeres, checava o desempenho escolar de Vicente, tinha uma vida simples. Simples, mas feliz.

Bom moço, Vicente era um dos primeiros alunos de sua turma. Exibia notas altas, tinha bom comportamento. Durante as tardes, costumava sempre estudar. Porém começou a mudar. Quando Maria chegava a casa, por volta das 17h30min, por várias vezes, encontrou o filho um tanto nervoso, um pouco atucanado com as palavras.

Como o fato passou a se repetir mais frequentemente, Maria ficou preocupada e muito curiosa. Numa tarde, conseguiu os três últimos períodos vagos e rumou para casa. Tinha em mente que algo fora do normal se passava com Vicente. Quando lá chegou, encontrou o filho transando com sua professora de História.

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